Concorrência Desleal
Ouvi uma queixa muito pertinente essa semana: “Vocês nos querem pra pegação. Só pra isso. Porque relacionamento mesmo, aquele de verdade, é com esses amigos gays de vocês.”
Mea culpa. Mais pura verdade.
OK, e meninas leitoras vão concordar, é bom dar uma chacoalhada com um cara que tá doido pra te pegar. Mas toda mulher sabe que, se começar a conversar, existe um momento que rola o “posso te add no fb?” ou o “deixa eu ficar com o teu número?”, se o cara for menos tecnológico. E tá cada vez mais difícil de ficar interessada a ponto de estabelecer vínculo pós-chacoalhada.
O motivo? Pode ser, realmente, esse. Nós estamos emocionalmente muito bem atendidas, obrigada! Estamos nos afastando dos homens dos quais, em tese, deveríamos nos aproximar. Deveríamos querer nos aproximar. Temos amizade, carinho, companheirismo, afinidade e várias outras coisas, sem nada de romântico envolvido. Subtraímos da equação o ciúme, a posse, o compromisso, o “Onde vc estava hoje a tarde? Não consegui te ligar!” e também o “Nossa, você e minha mãe são tão parecidas! Acho que se dariam muito bem! Uma hora dessas, acho que a gente deveria marcar algo…” ou coisas do gênero.
E, ainda por cima, podemos passar por um GATO e dizer: “Nosss…” sem medo de levar um olhar incriminador ou aniquilador, muitas das vezes.
Eu não acho isso certo, não. Não acho mesmo. Acho até que depois de ouvir essa reclamação sincera fiquei me questionando sobre muitas coisas. Onde foi que aconteceu essa quebra? Esse descompasso? Houve um dia em que nos interessávamos por encontrar alguém pra namorar, namorar de verdade. Vejo cada vez menos mulheres da minha idade interessadas em namorar.
Namorar, na minha compreensão, é assim: pegar + querer saber do outro + não suportar a distância + querer fazer parte da vida + etc… tem pouca mulher querendo isso. Muito pouca em comparação com 10, 15 anos atrás. Bom, e as que ainda querem acabam escolhendo os caras errados. Afinal, dedo podre pra homem é a nossa especialidade, né meninas? Muita, muita confusão mesmo.
Outro problema. Nada de reciprocidade. Os caras não se sentem emocionalmente assistidos por suas amigas lésbicas. Tá, eu sei. Isso é tema prá outra coluna. Mais de uma, na verdade…
Aqui fica a questão: o que é preciso fazer pra que a gente consiga se reencontrar como pessoas? Como homem e mulher tá cada vez mais fácil. Quebraram-se taboos e preconceitos. A mulher é livre e independente, etc. Mas como pessoas, o que nos falta? Nós mulheres somos livres e independentes, mas ainda queremos esse carinho, esse cuidado todo. Só que estamos buscando isso em outro lugar.
Por que não em vocês? Será porque sempre que um homem quer cuidar ele também quer possuir? A mulher de hoje não quer ser possuída. Ela não precisa de um homem com grana, carro ou com “performance na cama”. Pelo menos aquelas mulheres que valem a pena não querem isso. Sim, elas querem alguém bonito. Sim, elas querem alguém que se preocupe com a aparência e que tenha uma super auto-estima. Alguém com a mente aberta, que não julgue, que não diga “isso é coisa de vagabunda!”. Sim, elas querem alguém culto e educado. De preferência cheiroso. E lá vem você de novo, leitor: “que coisa gay!!!” Exatamente!
Finalmente, você entendeu!
