Michael Jackson
Estava claro que a mídia toda iria se render ao funeral de Michael Jackson. Estava claro que o mundo pararia, que a internet pararia, que a rua pararia. CNN, Fox, BBC, Globo News uniram-se em um pool uníssono para transmitir as últimas reverências ao Rei do Pop. Nada poderia ser mais importante na terça-feira que arremataria a dor da família e dos fãs por todo o mundo. Enquanto o palco recebia um casting de cantores ensaiados para contribuir com o tom solene da cerimônia, houve quem não conseguiu se calar nem ao menos durante a transmissão do adeus ao ídolo. O que poderia ser pior que morrer antes de provar pelo menos a inocência nos casos de abuso de crianças em que foi envolvido? Ter o funeral comentado, na Globo News e em tempo real, por gente como Zeca Camargo, na companhia de outros linguarudos de plantão. MJ não viveu para imaginar o quanto uma cobertura no Brasil pode ser transformada em tortura cheia de comentários absolutamente dispensáveis. “Que foto será que eles vão escolher para representar o MJ? Uma da fase normal ou dessas mais recentes?” “Este funeral está muito mal ensaiado. Pela demora para começar, eles devem estar sem saber o que fazer”. Ah, claro. Obrigada, Zeca Camargo. É impressionante a diferença da cobertura jornalística praticada em outros países. Mesmo com tantas especulações ainda pulsantes de com quem os filhos ficarão, qual teria sido a causa da morte e gente tentando prever o que acontecerá com as canções inéditas deixadas por Jackson, no fim de tudo, a música triunfou. Dava tempo de ter estudado para nos poupar do vazio de seus comentários, Zeca Camargo. Pelo menos nas emissoras gringas, o legado, a dança, os momentos vividos por tantas gerações ao som de sua voz, a inclusão dos afrodescendentes como disseminadores de uma cultura que influenciou e mudou o mundo tomaram o espaço das dicussões menores, dos escândalos, das cirurgias, das fobias. Acima de tudo, apesar de tudo e contra o que pensam alguns, a música venceu e pelo menos neste dia, foi tão alta e tão soberana que abafou as dicussões vazias. É uma pena que MJ não tenha vivido para ver a Disco Music ensaiando um revival ao som de Lady Gaga. Pena que ele teve que partir para que seus álbuns voltassem a parada de sucessos. Seja como for, o Rei está de volta ao trono e viverá para sempre em nossos corações.
*ilustração: Jon Burgerman
