Sobre “eternamente” e “nunca mais”
“Andei pensando em você. Mas tentei não dar bola porque pensamentos sobre coisas bobas me ocorrem todos os dias. Tentei passar para a próxima coisa boba. Afinal, são tantas. Outras coisas bobas apareceram prá brincar. E eu brinquei. Brinquei a tarde toda. Choveu. E eu brinquei com as minhas coisas bobas na chuva mesmo. E não é que junto com a chuva veio o sol. Lindo, né? A tarde passou. Quando parei prá pensar no dia, olhei pro lado. Ali estava você. Sentado no meio fio. Que coisa boba! Eternamente sentado no meio fio.”
A vida ideal é poder estar em casa quando chove. Observar os outros seres humanos desafiando o tempo e ficar quieto, embaixo das cobertas, comendo chocolate. Lendo e escrevendo. Ah, mais importante, sabendo que não tem nada prá fazer além disso.
Aqui no meu cantinho, me lembrei que usei ontem a palavra “eternamente”. E o mais estranho é que relendo o que escrevi ontem esse “eternamente” teve um “Quê” de nunca mais.
Pois parei prá pensar nesse “eternamente”. Eu acho que eu não gosto do “eternamente”. Pensando bem, minha história não se adapta bem ao “eternamente”. Eita vida que muda! Mas, mesmo assim, “eternamente” pra mim tem gosto de “nunca mais”. Pensa comigo. A gente escolhe uma coisa e coloca ela na caixa do “eternamente”. Quantas coisas você acha que cabem na caixa do eternamente? E como que essas coisas vão conviver lá dentro? Coisas diferentes na caixa do eternamente? Acho difícil. Fora que, salvo raras exceções, prá cada coisa que você coloca na caixa do “eternamente” tem que colocar outra na caixa do “nunca mais”. Ou, acontece muito, a coisa vai prá caixa do “eternamente” já com uma etiqueta pregada nela. Nessa etiqueta está escrito “nunca mais”. Eu não dou conta! Pronto, falei!

Minha mãe sempre se preocupa comigo. Ela fala pouco nisso, mas sei que se preocupa. Com 34 anos não tenho nada definitivo na minha vida. Minha vida muda. Muito. Com 34 anos minha mãe tinha uma filha de 17, e quer coisa mais eterna que um filho? Com 34 anos a maioria das pessoas normais tem vários “eternamentes” na sua vida. E muitos muitos “nunca mais.” E nem todos os nunca mais são negativos. Tem o “nunca mais sentirei fome novamente” da Scarlett O’Hara. E tem o “nunca mais vou precisar trocar de emprego.” Nunca mais vou ser demitido.” “Nunca mais vou ficar sozinho.” “Nunca mais vou me preocupar com grana.” Tá, acho que fome eu não passo, mas quanto aos outros “nunca mais” não tenho nenhum. Minha mãe até está certa em se preocupar. Eu me preocupo também, às vezes.
Mas não adianta. Eu não consigo. O “eternamente” prá mim dá essa sensação de não é mais tão importante. Não é um evento. “Eternamente” é aquilo que não me causa mais surpresas. Assinar “Eternamente tua…” quem acha isso romântico? Eu acho isso um saco! Eu acho muito melhor “Tua…” quer dizer “Sou tua agora, mantenha-me!”
Tenho um pouco de inveja de quem corre e briga pelo “eternamente”. Ou quem luta para manter seus “eternamentes”. Eu, sinceramente, faço corpo mole. Ai, dá preguiça. Quero muito algumas coisas. Algumas pessoas por perto. Mas as quero aquele dia. As quero em determinados momentos. Gosto de coisas com prazo de validade. Eu não tenho essa gana pelo “eternamente.” Pode ser que ela chegue um dia. Meus “eternamentes” hoje são muito poucos. O que os torna importantes. Sabe uma coisa que marca os “eternamentes” na minha vida? Minhas tatuagens, essas são eternas e sobre coisa eternas. Cada uma delas.
Se existem esses “eternamentes” eles tem de existir pra te deixar mais belo e mais feliz, pense nisso.
