Sobre uma flor

Uma música que a gente escute. Um livro que se está lendo. Uma mensagem que recebemos no celular. Uma cena simples e que pessoas normais nunca parariam pra olhar. Sim, te fazem pensar.

Saindo da Universidade pra pegar o metrô, eu estava de fones de ouvido. Então, só via, não ouvia nada. Tinha uma senhorinha vendendo doces na parada de ônibus. Lá, sentadinha. Cabelo desgrenhado, camiseta de propaganda política, chapéu surrado pra proteger do sol. Era hora do almoço. Lá estava eu, olhando para o nada. Vi chegar o senhorzinho (o senhorzinho dela) trazendo uma quentinha. Na outra mão uma flor. Uma florzinha dessas que a gente junta na rua. Ela o recebeu sorrindo. Ele chegou perto dela e prendeu a flor no chapéu. Só consegui ler os lábios “Tá linda!”. Ao que ela respondeu com um beijo de saudade, de amor e de gratidão. Pra completar o que tocava no meu fone era “She is Love”, do Oasis.

Sim, foi o momento de sorrir. Foi o momento de sorrir e chorar. Sorrir para a vida. Chorar de emoção, de saudade e de arrependimento por todas as vezes que compliquei.

Ouço muito das pessoas da minha idade sobre o que elas esperavam estar fazendo com trinta e poucos anos. As mulheres criam muito mais modelos. Ouço muito das pessoas na faixa dos vinte e poucos o que elas querem estar fazendo com trinta e poucos. As meninas querem todas ter bebês. Querem estar casadas, não querem abandonar sua vida profissional e ainda assim ser boa mãe, esposa sarada e sempre com um sorriso nos lábios. Os meninos? Menos. Mas todos querem ter um super carro, um apartamento, grana pra viajar e (já com trinta e vários) “a mulher” oficial que vai abrandar a espectativa dos pais e amigos quanto ao casamento e a responsabilidade.

Eu? Sim, era tudo isso que eu queria. Segui esse modelinho tal e qual durante muito tempo. Adivinha? Nada é como eu imaginava. “Ah, eu já estou preparada para ser mãe, quero uma família e quero estabilidade…” E eu quero a paz mundial e a bunda da Juliana Paes. Paciência!

Hoje não quero nada além do que tenho, todos os dias. Um belo dia sobre a minha cabeça, acordar com as cigarras e os passarinhos me torrando a paciência, tomar um bom Nespresso pela manhã. Sair, trabalhar, viver e voltar prá casa com a sensação que mais um dia vivi o que me chegou, com toda a sinceridade. Esperar o que? Só que os nós da minha fitinha do Senhor do Bom Fim se desfaçam e que meus três pedidos se realizem logo. Só que, no final do meu dia, eu tenha encontrado mais sorrisos que caras feias no meu caminho. Só.

E quanto ao amor? De verdade? Não quero mais que uma flor no cabelo.

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