Sobre desistir…

 

Você já desistiu de alguma coisa? De alguma pessoa? Já teve a sensação que pra seguir adiante, pra fazer funcionar, tem que deixar alguma coisa? Quando você tem muita coisa na mão e sabe, do fundo do coração, que algo vai cair? Todo mundo já passou por isso. Então você se abaixa e deixa alguma coisa no chão. Pelo menos, ali a coisa não vai quebrar. Não vai cair e se espatifar em mil pedaços. Sabe como a gente chega nessa decisão? Pensando, racionalizando. Se entrar em desespero já era. Vai deixar cair, vai mesmo. E pode ser que caiam várias coisas. Se você largar uma, as outras vão se acomodar melhor, não é mesmo?

Nossa cultura, nossa educação é cheia de ensinamentos sobre nunca desistir. Não tem até uma propaganda que virou um super refrão? “Sou brasileiro e não desisto nunca!” Pois é… somos cobrados. Não desista! Seja persistente! Você consegue! Você pode tudo! Você é o máximo dos máximos! É só não fraquejar! E por aí vai. Ninguém nos ensina a desistir. Ninguém nos fala “olha, acho que tá na hora de se esforçar menos.” Tah, alguém fala, mas a gente vê isso como um desafio. Aí é que a gente tenta provar algo. Seja o que for.

Perder não é fácil. Mas, quando está além da nossa vontade, ainda temos o consolo de que não foi nossa culpa. Desistir tem uma carga muito maior. A palavra “fracasso” ecoa nos ouvidos e a gente acha que todo mundo vai balançar a cabeça com cara de reprovação. Culpa. Dá culpa e dá vergonha.

Aí vai a primeira grande verdade. Ninguém liga. Podem até se esforçar para dar importância por cinco minutos. Mas, no fundo, ninguém liga. Isso está dentro da sua cabeça. Aliás, ando chegando à conclusão de que na maioria das vezes a gente acha que o mundo se importa com a nossa vida e, de verdade, não. Fofoca? Ah, isso sempre teve. E passa. Dura aqueles mesmos cinco minutos. E, continuo dizendo, é bem menos do que a gente pensa. Porque, no fundo, a gente se acha. Relaxa! Ninguém tá olhando pra você, de verdade. Então desista. Desista gostoso!

A sensação? Nossa! Nem tem como descrever. Espaço, basicamente. Algo que te atormenta a cabeça passa a ocupar muito mais espaço. Cresce, entende? Daí, um belo dia, você resolve. “Não quero mais!” E argumenta com você mesmo “não tá rendendo, não tá valendo a pena, fico enrolando horas pra evitar (isso ou esse alguém).” E o click é tão forte que chega a te dar um tranco. “Então porque eu tô forçando a barra mesmo? Nem sei!” E basta um telefonema, uma mensagem de texto, um e-mail ou mesmo o silêncio para que tudo se resolva, magicamente. E é assim mesmo. É magicamente, sim.

E seu cérebro passa a trabalhar em outra frequência. Você volta a produzir, a ser criativo. Você volta a pensar em outras coisas. Em TODAS as outras coisas que existem. O trabalho? Certamente vai melhorar. Sua vida pessoal? Realiza, pessoa! Agora você tem tempo pra ela! E aquela falta de vontade de levantar da cama? De sair pra trabalhar? De atender o telefone quando alguém te liga. Passou, não passou? Passou, sim. Dá quase culpa de novo. A gente acaba pensando “nossa, isso (ou esse) nem era tão importante assim…” É! Nem era, viu? As coisas ganham o vulto que damos pra elas. Como eu disse, está tudo na nossa cabeça.

Esse “deixar pra lá” sereno é treino. Não que você vá desistir de tudo. Mas desistir do que não vale a pena, do que não vai pra frente, do que não te faz sorrir, não mata. Gostei de postar músicas junto com os textos. Essa fala um pouco disso, de sentir que algo fica no caminho, lá atrás. E que tudo bem. Fica com você a beleza. Fica com você a tentativa, a lembrança. Fica o que fica. E sempre fica alguma coisa.

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