Sobre a paixão…
“Paixão é quando um sequestra o outro, sem chance de resgate.” Carpinejar
Tem uma música. Sim, uma música muito antiga que escuto desde muito pequena. Quando pequena nem entendia direito. Mas a gente cresce, né? E na adolescência tudo começa a fazer sentido. E começa a perder sentido também. O nome da música é Paixão. Essa aqui…
Mas minhas reflexões tem a ver com um papo muito legal que tive com uma amiga nesse final de semana. Ela me disse o seguinte “Ane, paixão é um mistério nosso, que nunca conseguimos resolver. Então nos apaixonamos pela possibilidade de solucioná-lo em outra pessoa. Por isso nos apaixonamos.” Palavras sábias da Mônica Severo. Paixão é isso mesmo, eu acho. É tormento. É tortura. É um buscar que se torna quase involuntário. Você nem se percebe discando o número da pessoa. Você olha a página do Facebook quinze vezes ao dia sem se dar conta. Você olha as coisas na rua e só consegue pensar como seria legal se aquela pessoa estivesse vendo tudo isso com você.
Estávamos conversando hoje sobre paixão. Paixão boba essa que dá no começo. O problema é que, nesse período do começo, a gente é, invariavelmente, um ou outro dos dois clichês típicos do relacionamento. OU o psicopata amoroso OU o canalha insensível. E, depois de algumas reflexões, chegamos à conclusão que o outro vai sempre nos ver como um desses dois personagens. Paixão é isso. É o contraste. Quando tudo vira amor vai desbotando. Vai ficando em tons pastéis. O que não é ruim, muita gente quer isso, mais que tudo. Um “amorzinho” como costumo dizer.
Paixão tem disso mesmo. Esse encantamento. Essa vontade de passar o dia agarradinho, sem fazer nada. Ou melhor, fazendo só uma coisa. E quando larga parece que o mundo perdeu toda a graça, o aroma, a textura. Fica tudo cinza. E recomeça a espera para estar junto uma outra vez. Um grande amigo me disse, já faz tempo, nem sei se ele lembra, que “Paixão é querer estar junto!” E é.
Mas tem a ver sim, com mistério. Enquanto o outro é o nosso maior mistério, somos instigados a continuar buscando. Acho que a paixão vira amor quando descobrimos e gostamos daquilo que desvendamos no outro. Acho que as coisas acabam quando, depois que desvendamos, nos desencantamos.
Outro raciocínio. Me dei conta como eu não gostava de algumas coisas que, depois de bem adulta, passei a gostar. Me dei conta como eu mudei em relação às coisas. Muitas coisas: comida, filme, tipo de passeio, música, etc… Música e cinema, por exemplo. Ouço e vejo coisas hoje que eu de-tes-ta-va há dez anos. A Maria Bethânia não mudou, eu sim. O 2001 não mudou, eu sim. Maturidade. A gente alcança determinadas coisas depois de um tempo. Em termos de entendimento, principalmente.
Essa paixão da música me parece uma paixão ainda não vivida. Uma paixão que foi alcançada. E essa paixão é desse jeito por parte de quem sente e não de quem é o objeto dessa paixão. Dá prá entender? A paixão vem da gente, com a nossa assinatura. Ela é parte do que somos, do nosso mistério, enfim. Quem sabe uma paixão que está por vir? Uma paixão que ainda não sei qual é? Se a paixão pode ou não se transformar em amor, nossas paixões também podem ou não mudar. Nós mudamos, certo?
E, como diz a amiga Mônica, a paixão é um mistério. Nossos mistérios também vão mudando enquanto o tempo passa. Desvendamos uns. Descobrimos que temos outros. Se existe a chance de desvendarmos todos em um único alguém, nem sei. Só espero, do fundo do coração, que sim.

