O Poder
A questão dessa semana passou por momentos teóricos e praticos. Questionamentos que foram surgindo na vida cotidiana e que acabaram refletindo em mim dentro de um campo mais ou menos teórico e perturbador. Afinal de contas, como desempenhamos nossos papéis na vida diária? No trabalho, com os amigos e na intimidade? Minha pergunta é: a maneira que nos comportamos na intimidade reflete na nossa vida social? Até que ponto somos capazes de separar as coisas? Ou até que ponto nosso temperamento, de um modo geral, na vida, se reflete no sexo, na conquista, no amor?

Comecemos por uma questão bem simples: quem dá as cartas na hora do sexo? Ou da conquista? Você ou o outro? Se a sua resposta foi “depende” é porque você ainda não tinha pensado direito sobre isso. Pare pra pensar… tem sempre uma resposta. Foucault diz que, nas relações de poder, o sexo não é o elemento mais rígido, mas é um dos dotados de maior instrumentalidade. Eu acho que quer dizer que usamos nossa sexualidade ou nossa energia sexual em quase tudo o que fazemos, e muito mais, nas nossas relações. Com amigos, com o chefe, com o subordinado, etc… nossas relações acabam sempre permeadas pela disputa por poder, pela sedução. Dissimulada ou não, a questão do domínio está sempre presente. E o elemento sexual acaba por tocar, de uma forma sutil ou não, essas relações. Teorias e teorias depois, vamos a parte pratica.

O homem é acusado de ser dominador, de impor sua vontade. Se não for assim, então ele é um frouxo. A mulher é acusada de ser manipuladora, se não for assim, então ela é uma tonta. E por aí vai… papéis e papéis que nos são impostos ao longo da vida e que nem sempre vão expressar de verdade nossas realidades. Papéis estes que, quase sempre, querem determinar quem está no comando. Esse tipo de “verdade absoluta”, expressa em branco e preto, nunca contempla os nossos tons de cinza e acabam nos prendendo dentro de caixinhas quadradinhas que chamamos de padrões. Eu mesma já ouvi que seduzo as pessoas. E não foi de uma forma pejorativa, foi quase um elogio. Mas me senti encaixada em um papel. O da mulher jovem e separada que quer devorar o mundo. Tudo e todos. Só pra saciar seu apetite pela vida. Se eu sou assim? Não sei… quando disse que não, uma das pessoas que mais me conhece hoje em dia fez aquela cara de “sério??”, então talvez eu seja, sei lá…
Sedução e poder. Quem persegue quem. Essas coisas. Fico sempre imaginando que a gente não tem real domínio sobre a gente. Somos meros fantoches totalmente manejados por nossos desejos e vontades. Eu mesma tenho tentado ser mais dócil, mais paciente, mais mulherzinha… chega na hora e uma doida aparece e coloca tudo a perder. É temperamento, me disseram. Eu sou mandona e pronto! Eu sou dominadora, sedutora, e nem sabia!!! Veja só!

As mulheres de hoje podem ser mais “forward” como, gentilmente, me categorizou um menino há pouco tempo. Mas chega um momento em que ela vai sentir o peso disso. Chega uma hora em que ela vai parar e pensar “nossa! Será que é por isso que eu tô sozinha?” A mulher já domina tantos espaços que talvez seja demais mesmo a gente, literalmente e metaforicamente, “ficar por cima” nisso também. Em termos sentimentais e até mesmo sexuais, sendo bem sincera, eu tenho a sensação de estar sentada sempre no banco do motorista. É verdade! E pode ser que eu esteja sentindo falta andar de carona de vez em quando… é gostoso revezar.
O que o mundo espera de nós e o que somos é, geralmente, diferente. O que o outro espera de nós, mais ainda. Homens passivos e mulheres ousadas. Homens dominadores e princesinhas a espera que quem as tire pra dançar a valsa. Sempre que um encontra o outro são pares perfeitos. Agora, imaginem quando o cara que se acha o cara bate de frente, e com vontade, com uma dessas mulheres que são só fogo por dentro? Hmmmm… parece mais interessante, não?

