Alexandre Herchcovitch
Nem só de passarela vive a São Paulo de lançamentos de primavera-verão e outono-inverno. Paralelamente a SPFW acontece no MAM o Zigue-Zague, um encontro imperdível recheado de discussões sobre moda, para moda, e comandado por gente que pensa moda. No dia 23 de junho último, durante a 6ª edição do evento, o debate desfiles incríveis levou ao museu Alexandre Herchcovitch para falar de suas coleções primavera/verão 2004/5 feminino + primavera/verão 2008/9 masculino. Confira abaixo as opiniões de Herchcovitch sobre mercado, carreira, imprensa e processo criativo.
O que mudou desde que você começou?
Síntese e objetividade é o meu objetivo hoje. Os desfiles nos fim dos anos 90 tinham 25 minutos. Meu primeiro desfile, em 1996, tinha 83 looks e durou 25 minutos. Ontem meu desfile masculino tinha 26 looks e durou cerca de 8 ou 9 minutos. No feminino, desfilamos 31 looks. De quinze anos para cá, aprendemos a sintetizar idéias e colocar na passarela aquilo que realmente interessa e a adequar o andar das modelos a uma passarela mais longa . Consigo perceber a diferença do poder de síntese.
Como é o trabalho com o Maurício Ianes?
O Maurício Ianes está na equipe desde 1993. O trabalho dele não é apenas de stylist, mas de consultor criativo. O trabalho de consultoria criativa é bem mais forte. Até o tema é proposto por ele. Ele vai uma vez por semana a fábrica, desenha, imagina como vai ser o desfile e quando chega para fazer a edição, já conhece a coleção, o que facilita muito o processo. As marcas deveriam investir nisso porque é um olhar de fora para apontar o que não é coerente.
O que é mais importante em um desfile?
Tudo no desfile é importante. O casting, a trilha. Temos colaboradores fixos. É importante manter a mesma equipe porque você já sabe como é o trabalho daqueles profissionais. A cabeça de quem está vendo o desfile depois de 10 minutos não consegue mais absorver, porque está ali vendo 8 ou nove desfiles por dia nas semanas de moda. Em Paris, por exemplo, é uma loucura porque há 16, 20 desfiles por dia e ninguém consegue ver tudo. Por isso você tem que usar esses 8 minutos da melhor maneira para passar a sua proposta. Se nesses minutos a trilha estiver mais alta ou um sapato cair, isso passa a ser um problema que se torna mais importante que a roupa.
Você acredita que a crítica da imprensa de moda influencia os consumidores?
Não acho que a crítica possa ser determinante na decisão de compra. Para o verão 2005, nos inspiramos no universo folclórico da Rússia. Os tecidos eram leves e a imagem infantil. Criamos um jardim matemático com 300 mil flores que cobriram a passarela e um urso de espuma. Tinha o colorido, o cheiro, o andar das meninas, a música. Foi muito criticado e não bateu com o sucesso comercial imenso que alcançamos.
Qual é a pior coisa do mercado de moda?
O ciclo é cruel. Se você for contra a sazonalidade, perde espaço para outras marcas, diferentemente de outras indústrias em que você desenvolve um produto e ele fica por anos. Ter que mostrar uma roupa a cada seis meses é cruel. Comecei a fazer o inverno há três meses. Eu mesmo fico pensando o que vou fazer, se é bom para mim ou para os outros.
Você se preocupa com as críticas?
A critica ao desfile é 5%. Não fico atrelado a isso. O que me importa é a melhor maneira de expor aquilo que pensei . O que norteia o meu tema é aquilo que gosto. Um desafio que proponho à equipe de estilo, é o DNA da marca e não o que os jornalistas vão escrever.
Qual a diferença entre desfilar aqui e em Paris?
Os jornalistas aqui do Brasil acompanham a marca desde sempre. Sabem por exemplo que a minha mãe tinha uma fábrica de lingerie e que isso tem relação com o meu trabalho. Lá fora as pessoas não têm esse conhecimento do meu histórico Essa é a diferença.
O que você considera quando vai desenvolver o masculino?
Desde 2001 eu separei o masculino do feminino. Até lá, tínhamos um tema único. Depois o nosso público masculino cresceu. O masculino não tem que ter ligação com o feminino. Muita gente diz que gosta mais do masculino que do feminino. A mulher é mais aberta que o homem e é mais difícil inovar. O masculino não se apropria do feminino. As formas são restritas. Eu poderia fazer vestidos para homens. Na coleção passada tinha uma camisa com saia que eu vendi muito. O problema que enxergo é que as marcas se apropriam do modo de fazer roupa feminina e querem levar isso para o masculino. Você tem que fazer roupa pensando em homem. As pessoas pensam que eu só vendo roupa para gays, o que não é verdade. Vendo muito para héteros, a minha roupa é muito bem sucedida. O masculino tem muito espaço para a inovação. Não há muito como inovar nas formas, mas um novo uso de tecidos pode fazer toda a diferença.
Sua marca é ecologicamente correta? Você utiliza tecidos ecologicamente corretos nas coleções?
A minha empresa ainda não está preparada para ser ecologicamente correta. Hoje eu detenho 30% da marca, e existe um comitê na empresa que pensa moda e cidadania. As empresas têm que pensar na sustentabilidade. Estamos nos preparando para entrar em uma nova fase.
Você compra tecidos fora do Brasil?
Trago de fora o que o Brasil não consegue produzir
Como é trabalhar para outras marcas?
Meu trabalho como diretor criativo leva em consideração todo o DNA da marca, o consumidor, o imaginário para criar uma coleção.
Você acha o desfile importante?
O momento do desfile é muito especial e acontece dentro da sala de desfile. É uma obrigação de qualquer marca apresentar qualidade. Nem todas as pessoas conseguem perceber os detalhes por isso dessa vez resolvi fazer um descritivo dos looks. A coleção ficou pronta 15 dias antes da apresentação para fotografar este descritivo. Não existe melhor maneira de mostrar a roupa do que com o corpo em movimento.
O que você acha da imprensa de moda?
Cada veículo confia em um profissional para escrever. Não tenho problemas com críticas positivas e nem negativas, mas tem de haver embasamento. Uma vez fiz um vestido que tinha um trabalho de recortes que demorei 15 dias para fazer e uma jornalista disse que era estampa. Aí não dá.
Com quanto tempo de antecedência começa o seu trabalho?
Comecei a fazer a coleção de inverno 2010 há três meses e ela vai ficar pronta em novembro.
Como é seu processo de produção?
Pensamos no tema e seguimos para cores, tecidos, formas. Começamos a fazer as mais complicadas e depois passamos para as mais comerciais. Posso dizer que hoje faço a coleção de trás para a frente. Antigamente você desenhava e depois sabia quanto custava. De alguns anos para cá trabalhamos já sabendo o quanto a peça deve custar na loja. Na alfaiataria eu sei que tenho que trabalhar com tecidos de no máximo R$ 18 o metro para que o paletó na loja custe entre R$ 800 e R$ 1.200. Faço a coleção de trás para a frente.
Que conselho você daria para os estilistas que estão começando?
Há 15 anos, antes mesmo de ter a minha marca, eu pensei em entender a construção da roupa. Se um paletó é mal pensado, ninguém compra. As pessoas saem da faculdade querendo ter uma marca. Quem quer ser estilista tem que entender o máximo que conseguir sobre modelagem e costura.

MA-RA-VI-LHO-SO ! ! ! ! ! Gente, eh um genio ne? sucesso pra galera do site, abracao!