Till you lose your heart …
Vi “Sete dias com Marilyn” essa semana. Não me peçam uma crítica. Não é disso que vim falar.
Assisti e fiquei hipnotizada. Michelle Williams, a menina que interpreta a Marilyn, fez um trabalho ótimo. Principalmente por mostrar um pouco da fragilidade que, por vezes, esquecemos que está lá e por mostrar, com maestria, o quanto a Marilyn era uma persona que não era, necessariamente, a pessoa. Bom, fascinada com a beleza e a magia que aquela menina exerce sobre as pessoas, pensei com meu coração de menina feia “Nossa, como eu queria ser ela, como eu queria ser como ela. Eu queria ser assim, desse jeito. Simples e encantadora.”
Mas não. Somos densas. Somos pesadas, muitas vezes. Cheias de imperfeições e tristezas. E não é só isso, cheias de pensamentos, idéias, opiniões, conhecimentos. Existem outras mulheres no filme. E, muito espertamente, contrastam com a figura da Marilyn, tratando-a com indulgência e com uma pena quase caricata. Bem, quantas vezes nós, mulheres modernas, vividas e independentes, olhamos pra alguma prima que decidiu dedicar-se aos filhos e à família e pensou “coitada” e se sentiu o máximo por ser essa criatura “DEEEEEENSA” e inteligente e cheia de virtudes e resoluções. Enquanto a outra se contentou com o o mesmo papel de suas avós. Ela se perdeu… se perdeu mesmo. Em alguém que se perdeu nela.
Essa semana, estava conversando com minha mãe ao telefone e falando de um certo rapaz que me olha com medo. Tenho a nítida impressão que, cada vez que falo com ele o coitado vai derreter de vergonha, fica nervoso. Dá vontade de olhar pra ele e dizer com todas as letras que eu não mordo, pelo menos em público… Sei lá, pode ser medo de que eu pergunte algo ou fale de algum assunto que ele não saiba levar. Essa densidade toda, essa eloquência maluca que eu tenho e, por vezes eu nem sei de onde vem, acho que no final das contas atrapalha. Esse meu jeitão de falar, mexer as mãos, e ser professora o tempo todo, que saco! Disse pra minha mãe “quem sabe eu banco a burra e a superficial assim pode ser que eu tenha algum sucesso nessa vida!” Ela me disse que não, que o homem que me quiser tem que me querer assim e tal, e tal…
Pensei, pensei, pensei… mas quando vi o filme, tive um insight.
Eu queria ser como a Marilyn. Eu queria olhar pra alguém com aquele olhar simples e hipnótico e fazer esse alguém se perder em mim, pra nunca mais. Eu queria muito saber fazer biquinho. Eu queria muito que esse alguém não tivesse olhos ou ouvidos para mais ninguém quando estivesse ao meu lado. Eu queria. Mas sou essa criatura densa (não consigo pensar em outra palavra) que não desperta paixões e sim confusões e medos. Mas será que sempre fui assim?
Elaborei a teoria de que existe(m) o(s) cara(s) certo(s). Tem um cara que me faz assim. Simples. Hipnótica. Tem um cara que se perde em mim. Tem um cara que vai fazer com que essa Marilyn apareça e seja encantadora. Tem um cara que vai simplificar as coisas. E se isso vai fazer com que eu largue tudo é me mude para Alto Paraíso para plantar batatas? Não sei. Também posso me mudar pra Paris e passar a vida fotografando, estudando e criando filhos, quem sabe…
Acontece. E não vai ser um cara que vai “bancar” essa mulher brigona, densa e eloquente. Não vai ser um cara que vai pagar pra ver e se apaixonar pela minha inteligência e pela minha brilhante forma de fazer as coisas e de ver o mundo. Não vai ser um cara que vai me considerar, racionalmente, a melhor das escolhas. Vai ser um cara que vai olhar e ver além de tudo isso e, ao mesmo tempo, muito antes disso. É o cara que desperta em mim a doçura e faz de mim a mais derretida das criaturas. É o cara que ilumina o olhar só de me dizer “oi…”
Somos mulheres modernas e independentes meninas, não se assustem. Mas é que essa nossa postura de leoa dura pouco. Quem acha que tem muito a perder em se perder assim não sabe nada. “Não há nada a perder até você perder seu coração.”

