O Frio
Sei que tô dizendo há horas que estou bem sozinha. Sei que estou falando sem parar “tá tudo bem, tá tudo ótimo!” e está, juro. Estou vivendo calmamente, um dia de cada vez. Tratando da minha vida profissional, cuidando da minha saúde, mantendo o físico em dia e me divertindo como nunca. Dando atenção aos amigos queridos, carinho para minha família e me amando acima de tudo. Fazendo um ótimo uso do meu tempo livre, que agora é só meu.
Tudo isso é verdade, mas…
Sinto frio. Desde que começou a chover nessa bendita cidade não durmo direito. Sinto frio. Coloco três cobertores e sinto frio. Duas meias nos pés e eles continuam gelados. Sabe o que é isso? Falta de hábito de dormir só. Não estou falando de sexo. Estou falando daquele momento, no meio da noite, que a gente procura os pezinhos quentinhos do outro e dá aquela esfregadinha, sabe? Aquela que serve tanto pra esquentar quanto pra ter certeza de que a gente não está sozinho. Aquele momento que a gente, dormindo, dá um sorrisinho, vira pro lado e dá uma olhadinha naquela criaturinha que está deitada do lado, de barriga pra cima, boca aberta, todo escabelado (e até mesmo roncando) e acha tudo lindo. A gente ri de novo, com a boca, com o coração, e dorme outra vez. Bãodimais!
Ai! E a tentação de arrumar alguém pra esquentar os pés? Ai! E a tentação de não passar mais esse frio? Que não tem outro remédio a não ser um corpo quente colado no teu e te fazendo sentir calor aqui e ali até que o calor seja tanto que… afemaria! O ser humano é doido mesmo! E quando faz calor a gente não consegue pensar em outra coisa a não ser em dormir sozinho, de perna aberta, ocupando toda a cama e não com aquele ser humano suado encostando em você. Ai que saco! Não, nunca estamos satisfeitos.
Essa mudança de tempo repentina daqui me afetou de várias formas. Não só fisicamente, que foi uma bênção, mas emocionalmente. Na seca, aqui, os dias são todos praticamente iguais. A gente acaba perdendo a noção de que o tempo passa. E eu estava assim, com aquela sensação de estar vivendo em stand by. Sempre a mesma coisa. Quase como o dia da marmota (lembram do filme “O Feitiço do Tempo”?) Então, veio a primeira chuva… No dia em que choveu, lembro bem era domingo, olhando tudo brilhando e refletindo as luzes, tudo molhado como há muito não via, senti, fundo no meu coração, que o tempo havia passado. Que a primavera traria as chuvas, o frio e esse ímpeto de começar de novo. Afinal, pra isso que servem as primaveras, certo? Esse meu sentimento tem até trilha sonora.
Diferente de outros lugares, a primavera daqui é fria, cinza e ainda por cima tem esse vento que parece que janela nenhuma barra. Esse vento que entra dentro da gente. Esse frio que nos faz ansiar por calor. E, pra completar, ainda tem todo esse verde ressurgindo. De lugares improváveis, de onde a gente achava que não ia brotar mais nada. Lá está ele. Nos dizendo que já é tempo. Nos dizendo que é nos lugares mais improváveis, sim, que a vida nos mostra a que veio. Uma primavera diferente, sem dúvida. Mas a mais linda que eu já vi. Aqui, nesse lugar, a natureza é mais perceptível, a mudança nos afeta mais. Sinto isso nos meus ossos, vocês não?
Sinto. E sentir, nesse momento é uma conquista tão grande que nem sei como explicar. A vontade de sentir é imensa. E, todos sabemos que estar predisposto a sentir atrai novas experiências, novas pessoas, novos momentos. Esperemos! Esperemos pra ver o que a primavera nos traz. Um belo cobertor de orelha, pra começar, já estaria bom…



ARRUMA UM CACHORRO. SE NÃO TIVERES TANTO TEMPO DISPONÍVEL, ARRUMA UM GATO… 🙂
parabéns ane, também já estou viciado nos textos.
lindo artigo! estou ficando viciado na sua coluna! beijão melhor professora do mundo!
“Sinto isso nos meus ossos, vocês não?”
E existe alguém nessa cidade que não sinta e passou por isso que você postou?
Claro que vale mencionar o pior frio, que por sinal, não mencionastes no texto: aquele frio que se sente até mesmo quando está acompanhado. Não que este seja o caso, porém, quem já passou por isso, sabe que é o pior que existe…
Curti teu post, parabéns! 🙂