Agora que o Campeonato Brasileiro acabou e oxalá seu time tenha permanecido na primeira divisão, que tal a leitura de Veneno remédio: O futebol e o Brasil, o novo livro de José Miguel Wisnik? Na obra, conceitos dos clássicos intérpretes da década de 1930, Gilberto Freyre, Caio Prado Júnior e Sérgio Buarque de Holanda, são aplicados de forma criativa para reflexão sobre a complexidade do futebol. E percebemos como a torcida brasileira é ciclotímica, passando da euforia à vaia com grande facilidade, fazendo do futebol um “veneno remédio” desde a famigerada Copa de 50. Uma das inspirações de Wisnik foi um ensaio de Pasolini de inícios da década de 70, no qual o cineasta italiano identificava dois estilos de futebol: prosa, praticado, sobretudo, por europeus, e poesia, jogado, em larga medida, por sul-americanos e, em especial, por nós, brasileiros.

Não é só na academia que o futebol vem assumindo maior importância. O Governo Lula elevou a paixão nacional à ferramenta de política externa brasileira. Quem não se lembra do Jogo da Paz, da partida amistosa entre a seleção do Brasil e a seleção do Haiti em agosto de 2004? Ronaldo, Kaká, Adriano e Ronaldinho Gaúcho causando comoção na chegada a Porto Príncipe, em demonstração simbólica da solidariedade do país em prol da paz e do desenvolvimento na ilha caribenha. Foi inclusive criada, no Ministério de Relações Exteriores, a Coordenação Geral de Intercâmbio e Cooperação Esportiva (CGCE) para gerenciar a “diplomacia da bola” e atender às demandas freqüentes de africanos e sul-americanos por transferência de conhecimento naquilo em que somos mestres. O futebol vai extrapolando assim o domínio de conversas e piadas para ser coberto por iniciativas que contemplam a Escola Internacional de Futebol, com sede em Brasília, que oferece curso de formação para 40 técnicos da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) e a “exportação” de programas como Segundo Tempo e Pintando a Liberdade, que usam o esporte como meio de inclusão social.

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