Grupo Corpo apresenta ‘Ímã+1’
Em 2010, o Grupo Corpo completa 35 anos. E, para comemorar, a Companhia elegeu um programa parcialmente definido pelo público, por meio de uma pesquisa no site do Grupo Corpo. Além de ‘ímã’ (2009), o espetáculo inicialmente chamado de ‘ímã+1’, terá também no programa ‘Lecuona (2004), com trilha sonora assinada pelo cubano Ernesto Lecuona.
É hábito da companhia compor programas em que as duas peças tenham alguma relação entre si. A proposta da turnê ‘Ímã+1’ representava risco de ruptura dessa tradição. Não foi o que aconteceu.
A base cenográfica de ambas as coreografias é a luz. E, enquanto o tema de ‘ímã’ é a complementaridade de opostos por meio de uma atração irresistível, ‘Lecuona’ é dançado por pares tão rasgadamente apaixonados que o díptico decorrente da intensa atração – amor/ódio – torna-se elemento tangível em cena.
‘ímã’ foi concebido a partir da leitura, pelo coreógrafo Rodrigo Pederneiras, de um artigo do antropólogo Roberto Da Matta, cujo tema era a complementaridade dos opostos. Para a trilha sonora, o diretor artístico do grupo, Paulo Pederneiras, sugeriu ao irmão o trio ‘+2’, formado por Moreno Veloso, Domenico Lancellotti e Kassin.
Paulo Pederneiras concebeu a iluminação/cenário do espetáculo como uma caixa onde os corpos em movimentos são inseridos. O linóleo branco do chão, o fundo e as pernas igualmente brancos transformam-se, sob o efeito da luz, no espaço ideal para os passos desenhados pelo coreógrafo. A cor ganha volume. É densa. E os bailarinos podem apoiar seus corpos nela de maneiras mais que inusitadas. A dança não acontece ‘sob a luz do refletor’ os bailarinos executam os movimentos criados por Rodrigo dentro da luz. ‘imã’ criou uma nova estética para a relação entre cenário e iluminação.
Os figurinos de Freusa Zechmeister dialogam com o ambiente de luz criando contrastes e combinação tão bonitas quanto surpreendentes. O cinza da abertura lentamente dá espaço às cores. O movimento final é incrivelmente colorido e harmônico.
A coreografia de Rodrigo Pederneiras parte de um primeiro movimento com os bailarinos unidos dois a dois como se fossem um, a um encerramento onde tudo que se repeliu e foi ganhando cores durante o espetáculo se reúne/complementa, os passos criados pelo coreógrafo têm requebro (os quadris do Corpo!) e originalidade habituais. Dignos de notas os duetos em ‘Animais sem asas’ e em ‘Sopro’, onde o coreógrafo ignora a Lei da Gravidade
e ‘equilibra’ os bailarinos nos mais improváveis eixos.
A música criada pelo ‘+2’ é totalmente integrada ao espírito da companhia e combina perfeitamente com o espírito ensolarado idealizado para o espetáculo. Samba, bossa nova, jazz e drum’n’bass juntam-se ao erudito ilustrando a temática do espetáculo. Assim como os bailarinos em cena, a trilha é tão lúdica que passa a sensação de ter sido composta em meio a brincadeiras entre os músicos do trio.
Quebrando uma tradição que se mantinha desde 1992, ‘Lecuona’ não tem trilha sonora composta exclusivamente para o grupo. Em vez disso, um vinil em que cantores cubanos interpretam músicas do maestro acompanhados de orquestra regida pelo próprio Ernesto Lecuona (1895-1963), foi remasterizado. Treze canções, sendo doze cantadas, retratando amor, ciúme, ódio, desprezo e saudade com a intensidade típica dos amores latinos estão no disco. Cada tema cantado é dançado por um casal de bailarinos em cenário monocromático – cria-se a ilusão de um cubo de luz com a projeção da luz em uma tela na boca de cena. Os figurinos, de Freusa Zechmeister, vestem os homens elegantemente de preto. Os figurinos femininos merecem destaque: Freusa criou vestidos de tecidos leves, cheios de decotes e fendas que, além de realçar os belíssimos movimentos criados por Rodrigo, expõem as formas das bailarinas. Os sapatos de saltos das mulheres são explorados na medida certa para tornar o todo mais ‘caliente’. É sensualidade em altíssimo nível.
A valsa que encerra o espetáculo é dançada por todos os casais dentro de uma caixa de espelhos que ofusca o olhar e nos remete aos musicais da época de ouro de Hollywood – para os quais Lecuona compôs algumas trilhas. Arrebatador!
Fotos: Divulgação/José Luiz Pederneiras
FICHA TÉCNICA
Ímã (2009)
Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Música: + 2 (Moreno, Domenico, Kassin)
Cenografia e iluminação: Paulo Pederneiras
Figurinos: Freusa Zechmeister
Duração: 40 minutos
Lecuona (2004)
Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Música: Ernesto Lecuona
Figurinos: Freusa Zechmeister
Cenografia: Paulo Pederneiras
Iluminação: Paulo Pederneiras e Fernando Velloso
Duração: 40 minutos
SERVIÇO
16/09 a 19/09
Quinta, sexta e sábado, às 21h
Domingo, às 20h
Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional Claudio Santoro
ngressos: R$ 70,00 (inteira) e R$ 35,00 (a meia)
Informações: (61) 3325 6256



Eles tiveram no festival Internacional de Edinburgo também, encontrei um cartaz enorme anunciando o festival com a imagem deles
que texto bom. não deixa em nada a desejar aos dos críticos tradicionais dos jornalões. Fiquei com vontade de ver. o espetáculo já passou por são paulo? porque aqui pra palmas com certeza não virá, né?!