Por Marcos Pinheiro, cult 22

Fotos: Abelardo Mendes Jr

A passagem do Franz Ferdinand por Brasília reacende a velha discussão sobre a falta de espaços apropriados para shows de maior porte na capital do Brasil – leia-se para públicos superiores a três mil pessoas, capacidade máxima do confortável auditório master do Centro de Convenções (onde o mestre B.B. King se apresenta hoje à noite), cuja configuração, com cadeiras, não se adequa a uma apresentação vibrante como a do quarteto escocês. O Ginásio Nilson Nelson, como sabemos, carece de boa acústica e é preciso montar uma megaestrutura de palco para driblar as deficiências.

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O Marina “Hell”, digo, Marina Hall é um desrespeito ao cidadão de bom senso, não importa se tem 20 ou 40 anos. É causa ganha em ação no Procon. Podem me chamar de ranzinza, mas ninguém merece pagar entre R$ 120 e R$ 160 para ficar “derretendo” por uma hora e 40 minutos num calor insuportável. Aqueles ventiladores instalados nas pilastras de sustentação da pista não têm qualquer condição de refrescar uma multidão de quase seis mil pessoas que se aglomerou ontem (21/3) à noite. Sem dizer no estacionamento confuso de causar irritação até em monge tibetano.

Como se não bastasse, o pé direito baixo daquele “salão de festas” não permite a montagem de um palco com altura compatível ao tamanho do espetáculo. Quem tem menos de 1,70m sofreu pra conseguir visualizar com clareza tudo o que rolava lá em cima – a não ser que estivesse grudado na frente da grade de proteção. Pelo menos a acústica, normalmente ruim, foi bem resolvida e dava pra ouvir com clareza os instrumentos e, principalmente, a voz de Alex Kapranos. E o atraso foi insignificante – o Franz Ferdinand subiu às 21h20, 20 minutos após o previsto.

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Quanto ao show em si, não há o que reclamar. Costumo ter certa implicância com o “hype” que se forma em torno de novas bandas, aquele discurso de “salvação do rock” (“a melhor banda de todos os tempos da última semana”, como bem ironizaram os Titãs) que por vezes toma conta de certos segmentos da mídia. Na minha opinião, a relevância artística só pode ser comprovada com o tempo – e não apenas com o primeiro disco, algumas músicas lançadas no myspace ou um punhado de shows.  Procuro ouvir e acompanhar o “novo”, claro, por dever da profissão. Mas sem ficar me entusiasmando a toa.

Agora, fechando a primeira década dos anos 2000, já podemos avaliar melhor a importância histórica do som da “nova geração”. Até pouco tempo, considerava que apenas duas bandas desta turma mereciam destaque no meu ranking: StrokesWhite Stripes. Mas estava considerando incluir uma terceira, o que se confirmou na noite de ontem. O Franz Ferdinand tem legado suficiente para entrar no panteão dos grandes nomes do novo pop/rock mundial, na minha opinião.

É muito bom ver em Brasília a apresentação de um grupo que está no auge. Com muita simpatia e carisma, Alex Kapranos e cia. fizeram um show dançante, energético, e desfilaram um repertório matador misturando 20 canções dos três discos que lançaram até aqui. No your girls, Tell her tonight, Do you want to, Walk away, Take me out, This fire, Ulysses, Turn it on,Michael, Darts of pleasureNão é qualquer banda que acumula tantos hits em tão pouco tempo. E a reação do público, cantando e pulando (e suando em bicas) em todas as músicas, reforçou o conceito da importância do Franz nesta nova ordem da música pop mundial. Consegui ficar no meio da “muvuca” até a 12ª música, justa e ironicamente This fire. Mas o calor me venceu e recuei estrategicamente para o “fundão” para poder assistir ao restante. O clima já não era o mesmo, mas tudo bem.

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Não posso deixar de registrar também a excelente performance do quarteto brasiliense The Pro, que justificou plenamente a presença como banda de abertura (eles foram os mais votados em eleição nacional via internet) e fez um show com muita personalidade. O mais bacana é que a galera marcou ponto em grande número cantando e aplaudindo várias músicas, como Todos juntos, Volta tempo, AlfamaTudo bem, todas lançadas apenas em singles e no myspacedeles. Na apresentação, que foi das 20h às 20h30, Zé (voz e guitarra), Bernardo (baixo), Lucas Fadul (guitarra) e Guigo (bateria) contaram com o bom reforço de Filipe Viana, do Watson, nos teclados. Parabéns!

Problemas estruturais a parte, Brasília vive um momento mágico. E hoje ainda tem B.B. King!  Não me acordem deste sonho.

set list em Brasília foi:
. Auf Achse
. No You Girls
. The Fallen
. Tell Her Tonight
. The Dark Of The Matinée
. Can’t Stop Feeling
. Do You Want To
. This Boy
. Walk Away
. Take Me Out
. What She Came For
. This Fire
. Ulysses
. Turn It On
. Outsiders

Bis:
. Jacqueline
. Michael
. Darts of Pleasure
. 40′
. Lucid Dreams

1 comentário sobre “Franz Ferdinand

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