É difícil pensar em frio com as temperaturas bombando ainda no verão, mas nosso calendário de lançamentos de inverno 2010 já está a todo o vapor. Terminada a Fashion Rio e com a próxima parada agendada para as apresentações masculinas de outono-inverno 2010 em Milão (não vai perder nossa análise das coleções milanesas) e em seguida, na São Paulo Fashion Week, já dá para ter uma idéia de como ficará o guarda-roupa masculino.

Ao todo, quatro marcas apresentaram na semana carioca coleções para rapazes. Ausländer e R. Groove exclusivamente masculinas e TNG e Redley, que emplacaram coleções mistas, mas capricharam nas apostas para homens.

A grande questão do mercado masculino continua sendo aliar design e informação de moda em peças que possam corresponder a rigidez que ainda permeia o nicho. De nada adianta propor looks mirabolantes, para fashionsita ver, se na hora do bater do caixa a coleção não gira, não emplaca. Por outro lado, apostar no comercial palatável, de peças facilmente digeríveis também já não agrada ao cara que passa pela vitrine. A informação de moda chega, pouco a pouco, aos marmanjos de plantão e já não dá para colocar qualquer coisa em cima de uma passarela.

Há também um pequeno detalhe que há tempos pensamos por aqui : a tal da necessidade do tema. Os estilistas parecem ter uma imensa ânsia de justificar suas coleções e muitas vezes vão para a prancheta preparados para seguir exatamente o que manda a receitinha do “vamos fazer o que todos estão fazendo e mudar um detalhe ou outro, para não ficar mal na fita. Feito isso, damos um nome à coleção!” Daí, a gente olha e logo vê que o cara por trás da “criação” não liga a mínima para a criatura. Sejamos francos. Às vezes, é melhor colocar na passarela uma porção de referências sem nome, sem título, do que sufocar a coleção, coitada, dentro de um rótulo que não lhe serve, só para fashionista ver. O recado já fica na parede, inclusive, para os eventos de moda locais, brasilienses, que em março estarão por aqui.

Cumprindo nosso papel de fomentar e instigar a moda masculina, preparamos um balanço com que de melhor (e pior!) aconteceu nas passarelas masculinas da Fashion Rio, que terminou ontem, 13.

Ausländer

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A Ausländer, de Ricardo Brautigan, abriu o evento no dia 8 e inaugurou as passarelas exclusivamente masculinas. Apesar das boas peças de tricô destroyed e das t-shirts “engraçadinhas”, com frases de efeito derivadas da parceria da marca com a BlackBerry, a inspiração roqueira surpreende pouquíssimo ao emplacar um tema já explorado à exaustão, sobretudo quando a ele nada acrescenta. Em vez disso, a coleção derrapa em um estética pesada, cheia de obviedades e salva aos quarenta e cinco do segundo tempo pelo styling, que conseguiu arrancar algum impacto dos looks a la Mad Max, com perfume Guns N’ Roses.  Uma pena.

TNG

tng

Em sua estréia na direção criativa da marca, Maurício Ianês (que substitui Regina Guerreiro) acerta a mão na silhueta, quando desloca ganchos para baixo nas calças e aposta em um bom jogo de proporções, com as maxi-t-shirts. Apesar da insistência na fórmula infalível das celebridades, colocando na passarela um Thiago Lacerda que absolutamente destoa dos demais modelos –  sobretudo quando vem acompanhado de uma desengonçada Taís Araújo -, a marca dá um salto em relação à coleção anterior, cheia de oitentismos massantes. Ponto também para a estamparia típica da inspiração da coleção: nativos do Alaska e esquimós. Embora o xadrez tenha pesado na referência a lenhadores, a estréia de Ianês promete recolocar nos trilhos a marca.

Redley

redley

A boa escolha do tema e a coerência das criações rendeu à Redley a melhor das apresentações.  Os Nômades Urbanos da marca encheram os olhos e a passarela com peças que reúnem o que de melhor acontece no universo de moda masculina. Mistura de materiais em peças que contemplam formas orgânicas exercitam um bom mix de looks urbanos com referências a natureza. Peças utilitárias (destaque para a jaqueta com mochila acoplada) e o jogo de grafismos que ora se transformam em recortes nas calças e jaquetas e ora sugerem deliciosas sobreposições surgem coloridos em uma cartela de cores bem anos 90, de cinza, branco, preto, a la Helmut Lang, pontuados por azul e pelo perfume militar do verde oliva. Ponto também para o cós das calças que aparece destacado, para a mistura de cores em uma mesma peça, a estamparia de tricô impressa nas peças e o ótimo patchwork de náilon. Uma deliciosa aventura que, esperamos, não se desfaça com a saída do alemão Jurgen Oeltjenbruns da direção criativa da marca. A moda masculina precisa desse ar fresco, jovem e criativo.

R. Groove

rgroove

Foi boa a estréia de Henrique Gonçalves no calendário oficial (o estilista migra do extinto Rio Moda Hype). Tateando o terreno, Rique batiza a coleção de Mar Revolto, traz a tona surfistas, mergulhadores e pescadores e acerta quando aposta em paletós recortados (do final do desfile), em tricôs rústicos, de ponto mais aberto e nas calças com volume no quadril e pernas mais ajustadas. Entretanto, escorrega nas transparências excessivamente femininas, no styling com chapéus que enfeiam os looks e na proporção da silhueta, justa demais na parte de baixo com leggings enfadonhas e pouco comerciais. Melhor teriam ficado os paletós sem o brilho do cetim que nada se aproximam da realidade de mercado. Mesmo assim, Rique merece toda a nossa atenção e torcida para que na próxima temporada consiga mostrar seu talento com mais precisão.

Fotos: Agência Fotosite

2 comentários sobre “Fashion Rio

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